quarta-feira, 23 de julho de 2008

Segundo a transcrição da obra:MÚSICA E DESCOLONIZAÇÃO de Leonardo Acosta.


A linguagem melódica do músico não é seu património individual, tornando-se antes comum ao grupo social a que pertence e "ao ser um modo de exteriorização de ideias tradicionais e convencionais o músico não pode intervir no essencial delas" E acrescenta:

Porém, enquanto conserva essa base essencial, o músico terá uma margem de liberdade para encontrar um modo de realização não literal daquela, mas que pode ser improvisado:em termos gerais, trata-se de encontrar variantes aos padrões básicos sobre os quais repousa a convenção ou a tradição melódica [...]


Adolfo Salazar refere-se especialmente ao raga indiano e ao maqam árabe, com as suas variantes representativas de sentimentos distintos ou de qualidades éticas distintas, às quais correspondem diferentes fórmulas típicas.


Poderemos considerar que, existindo uma certa similitude destas músicas com o fado português, a livre atitude dos músicos instrumentistas , face a determinadas situações, é perfeitamente aceitável.


Joseph

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Também na música do Fado.

Assistimos frequentemente a estreias, que são uma "novidade"apenas para um público com avidez de superar uma certa letargia que parece cristalizar o ambiente do Fado, onde, todavia, o chamado Aleatorismo também se aplica entre nós porque as músicas continuam a ser as tradicionais com poemas mais ou menos sofisticados e as interpretações adequadas a um ritmo diferente, prontas a agradar a "gregos e troianos"!
A máquina comercial é infalível e não subestima a sua finalidade...
O uso,e abuso, da substituição da tradicional estrutura poética e musical, que caracteriza a autenticidade do nosso Fado, chega a desvirtuar a mensagem que deve ser dirigida ao destinatário.
Estamos de acordo com o brasileiro Mário de Andrade quando afirmava que a chamada música universal é um "esperanto hipotético que não existe".
Entretanto, improvisar, criar e recriar dentro dos cânones que norteiam o nosso fado, parece-nos ser "musicalmente" salutar.
Joseph

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Amália Rodrigues - Madrugada de Alfama (1961)

MADRUGADA DE ALFAMA.
Madrugada de Alfama e Maria Lisboa;Poemas que retratam o quotidiano do popular bairro lisboeta nos anos sessenta.Autêntica aguarela viva do pulsar da sua gente.
Mais tarde, Ary dos Santos, acrescenta, num poema de sonho, que "Alfama não cheira a Fado mas não tem outra canção".

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Becos e escadinhas.Ruas estreitinhas!


Assim foi:

A noite estava quente e calma, a população de Alfama acorreu ao arraial promovido pelo Grupo Sportivo Adicense, colectividade fundada em 1916, muito estimada no bairro, vocacionada para a o desporto, a cultura e o recreio.

Quem pudesse, e quisesse, observar Alfama, naquela noite de 28 de Junho, concerteza que ouviria as vozes do Fado, acompanhadas à guitarra e à viola, assim como a vozearia e os aplausos no final das actuações dos fadistas amadores, de ambos os sexos e de todas as idades.

Não seria difícil descer a escadaria das Portas do Sol e sentir-se atraído por este "ritual", repetido todos os anos em época dos festejos dos santos populares.


Joseph

sábado, 5 de julho de 2008

Fadista, Vocalista de Fados ou Artista de Variedades?

Houve quem entendesse que fadista era um termo demasiadamente pejorativo, porque, conforme as épocas, assim eram mais ou menos caracterizados os indivíduos, homens ou mulheres, que "batiam o fado"mesmo que não soubessem cantar, dedilhar guitarra ou tocar viola.

Segundo os preconceitos da época; poderia ser fadista todo aquele que, frequentando "antros de má fé", encomendava versos ou músicas e, muitas vezes, sabia com habilidade mestra manejar uma navalha...

Preconceitos muito ligados, talvez a uma cultura religiosa, de costumes conservadores, com a separação da música sacra da profana, fez com que o fado não fosse actividade artística considerada de muitas virtudes.

Andaríamos, assim, por uma época após as guerras liberais, em finais da primeira metade do Sec. XIX.

A preocupação de definir o fadista como cantor, porque era hábito chamá-los cantadores, apareceu com a necessidade de integrar o fadista na classe dos músicos.

Havendo músicos instrumentistas , aqueles que tocam qualquer instrumento musical, lógico seria que, aqueles que que executam ou interpretam música vocal, fossem considerados vocalistas e daí o termo "vocalista de fados".

Os sindicatos do sector dos espectáculos optaram por esta classificação, "vocalista de fados" a fim de integrar os fadistas no mundo do espectáculo com dignidade profissional a um nível de igualdade de oportunidades na contratação colectiva.
Havia quem, ,julgando que a classificação de "artista de variedades" era mais chique preferiam esta, mas estavam bem enganados porque poderia ser artista de variedades um simples "animador de pista" ou como é vulgar dizer-se, um "faz tudo", com todo o respeito que nos merecem estes extraordinários artistas.
Hoje em dia, a terminologia "fadista" adquiriu um estatuto social de elevado significado e relevo no mundo das artes e do espectáculo tanto a nível nacional como a nível internacional.
Passemos a chamar fadistas aos nossos intérpretes de Fado, com honra e dignidade, que partilham a nossa cultura e a divulgam com qualidade.
J.Fernandes(Dirigente do Sindicato dos Músicos de 1992 a 1997)