domingo, 27 de novembro de 2011

Faleceu, em Alfama, Ana Maria Dias.

Última entrevista para a Comunicação Social por ocasião da candidatura do Fado a Património Imaterial da Humanidade.





Ana Maria Dias canta o fado noutros tons
26 de novembro de 2011

Nas ruas de Luanda ouvia-se fado. ‘Eu já venho a cantar de Luanda desde os 10 anos’, conta Ana Maria Dias. Foi lá que começou a cantar no Chá das 6 e, depois de ter sido aluna do Mestre Casal Ribeiro, fez uma série de conhecimentos e a integração no cenário português revelou-se muito fácil. Agora canta todos os dias na muito lisboeta Taverna d'el Rey, em Alfama.

Começou a cantar ainda menina. ‘Apaixonei-me pelo fado desde muito nova’, confessa Ana Maria Dias. Veio para Portugal quando tinha 22 anos e agora, aos 59, diz-se uma fadista de ‘corpo e alma’. A primeira reação de quem vai até à Taverna del Rei para ouvir Ana Maria Dias é de desconfiança. ‘Vamos lá ver o que sai daqui’, conta, a fadista entre gargalhadas.

A integração no cenário português foi uma coisa fácil porque os contactos trazidos de Luanda fizeram com que não se sentisse uma estranha. Numa altura em que as letras das músicas eram controladas pela censura, era complicado cantar livremente. ‘Comecei por ir viver para Santarém mas peguei nas malas e vim para Lisboa’, recorda.

Na Taverna del Rei apresenta todas as noites ‘As mãos do povo’. Quando se fala no nome de Ana Maria Dias, é inegável falar sobre o tom achocolatado da sua pele, que à partida é pouco associado ao fado. A comadre, amiga e proprietária da taverna Maria ‘Jô Jô’ partilha até uma divertida história relacionada com isso mesmo: ‘Uma vez ela estava a cantar aqui na casa, toda vestida de branco, e para se cantar o fado temos de apagar as luzes um pouco. Entrou um cliente e disse "Oh Maria, tens cá uma fadista sem cabeça a cantar?". Ele só via o vestido branco e fartámo-nos de rir’.

Enquanto falam do que é ser fadista, Maria ‘Jô Jô’ e Ana Maria relembram Augusto Amaral, outro cantor angolano com quem trabalharam. Nas palavras de Maria, ‘o fado não tem cores’. Talvez seja por isso que quando a voz de Ana Maria Dias começa a ecoar pela Taverna d'el Rey, a sua cor se dilua pelas paredes.




Faleceu na noite de Domingo para Segunda-feira no final de uma noite de trabalho.





Descanse em Paz.





FADO-Património Imaterial da Humanidade!


























Haverá, eventualmente, quem se queira apropriar desta promoção do Fado a Património Imaterial Cultural da Humanidade.
Não haja dúvida!
O Fado é de todos; todos aqueles que, com arte e empenho, o vivificaram e vivificam, sem protecções «dinásticas», de casta ou linhagem, e o interpretam com um tema adequado no espaço certo e no tempo preciso.
Como «cantiga profana» atingiu, em Democracia, a projecção internacional com o devido reconhecimento graças ao valor de todos, cantadores e cantadeiras, instrumentistas, poetas e compositores e não só apenas de alguns protagonistas bem instalados na esfera das influências mais sofisticadas.


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