segunda-feira, 17 de agosto de 2009

A chamada guitarra portuguesa.

Apresentamos nesta página um excelente trabalho de investigação, do estudioso musicólogo José Lúcio, que merece toda a nossa admiração porque sustenta uma tese histórica e científica.
A GUITARRA E O FADO

A palavra GUITARRA, não identifica nenhum instrumento em especial, excepto se a localizar temporalmente e geograficamente. Cada país tem a sua guitarra. Se for a Espanha comprar uma " guitarra ", o empregado traz-lhe uma viola. Já agora, quando é que será, que a rapaziada passa a chamar às "guitarras eléctricas de violas eléctricas, às guitarra de Folk violas de Folk e os cursos de guitarra clássica, passam a ter o nome correcto de viola dedilhada.
Mas, como terá aparecido no vocabulário musical a palavra GUITARRA e especificamente em Portugal.
A palavra GUITARRA, sem especificar a que tipo de guitarra no referimos, tem a sua origem etimológica na língua Grega, "Kythara", que os latinos transformam em "Cithara".
Dentro da mitologia existem, várias lendas sobres a origem desta palavra:
A palavra GUITARRA, proveio de " CYTHERON " , nome de uma montanha habitada por musas.
Do antigo nome " CYTHARA ", nome de ilha grega - CERIGO , paraíso da poesia e do amor, onde existe um templo dedicado a Vénus.
Atribui-se a invenção de um cordofone, um mouro/espanhol, que viveu na idade média de nome AL-GUITAR.
Pela análise e leitura comparada, de vários documentos que abordam este assunto, é tido como certo a existência de dois tipos de guitarras, na Península Ibérica, na Idade Média: a Guitarra Mourisca e a Guitarra Latina. A primeira de forma ovalada, a segunda com enfraque, isto é, em feitio de oito.
Se puder e tiver paciência para isso, consulte o livro de Juan Bermudo, "Declaracion de Instrumentos Musicales" publicado em 1555, que se encontra na Biblioteca Nacional de Paris (está escrito em Espanhol do séc. XVI e existe uma edição fac-similada na Biblioteca Nacional de Lisboa).
Ainda hoje, muitas são as pessoas que confundem viola com guitarra. A confusão, está na pouca identidade da cultura musical Portuguesa. Muitos são os professores que dão "as aulas de guitarra clássica" quando o instrumento que ensinam, se chama de viola ou violão, em Português.
Para os mais cépticos, consultar o dicionário de música, de Thomaz Borba.
Musicólogos atentos estudaram, a terminologia utilizada pelos escritores Portugueses, chegando a conclusão, que se a palavra VIOLA já era utilizada no século XV e, a palavra GUITARRA só é utilizada no século XVIII. Tem a sua lógica, porque é nesse século que a Guitarra Portuguesa, corta o seu cordão umbilical. Não como os mais saudosistas pretendem, ter estado presente em Alcácer-Quibir, batalha no norte de África onde D. Sebastião perdeu a vida, ou talvez não, em 5 de Agosto de 1578. Segundo as crónicas do frade francês Caveral, os portugueses teriam deixado ficar no campo de batalha, 10.000 guitarras. Quem analisou este documento e o traduziu para português, não teve o cuidado de traduzir a palavra "guiterne" para Viola. Assim, tendo em conta a veracidade dos documentos analisados, poderei afirmar que primeiro apareceu a Guitarra Portuguesa (final do século XVIII), só depois aparece o FADO (como expressão musical).
Portugal é um País muito rico, nos diversos Cordofones que apresenta. Assim, além do Violão tradicional de 6 cordas, companheiro das Fadistices da Guitarra Portuguesa, existem várias violas de arame, com características bem definidas:
A Viola Amarantina (Amarante), Viola Braguesa (Braga), Viola Beiroa (Castelo Branco), Viola Toeira (Coimbra), Viola Campaniça (Alentejo), Viola de Arame (Madeira ), Viola da Terra (S. Miguel, Açores) e Violas de 15 e 18 ordens da Terceira (Açores).
Cada um destes instrumentos, tem uma afinação própria, um determinado número de cordas, enfim uma personalidade enraizada, por mãos calejadas, que os tocam com a sabedoria adquirida ao longo de gerações. Só porque são do povo e não do ambiente clássico, ninguém tem o direito de os destruir.
Gosta que lhe troquem o nome, ou o façam passar por outra pessoa?
Apesar da Guitarra Portuguesa ser um bocadinho mais velha que o FADO, não me diga que estes assuntos não são cativantes.

Recomendo-lhe o livro de Armando Simões, A GUITARRA bosquejo histórico (1974).


http://http://www.jose-lucio.com/Pagina2Fado/Guitarra%20e%20Fado.htm

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